Devia ser Romeu e Julieta. Tinha certeza de que era, na verdade. Mas minha memória tem uma péssima fama. De qualquer forma, o grupo de teatro da North River High School ia se apresentar naquela noite. Eu nunca, nunca!, fui muito fã daquela gente, muito menos gostava de ir às peças feitas por eles. Mas lá estava eu, na porta do auditório, no dia da tal peça. Toda aquela gente do teatro andando pra lá e pra cá e esbarrando em mim o tempo todo estava fazendo a droga da minha paciência se esgotar. Acredite, isso é bem difícil. Estava quente pra caramba e, sabe, os condicionadores de ar costumam ficar do lado de dentro dos prédios. Eu devia ter ido de bermuda, mas não, eu tinha que dar ouvidos à minha irmã - "Imagina só que mi-co se só você aparecer lá de bermuda. Ai, Matthew, você me aparece com cada uma..." dizia, revirando os olhos - e pôr calças.
Com as mãos enfiadas nos bolsos da calça, encostado na parede ao lado da enorme porta dupla de carvalho e bufando a cada meio minuto, eu esperava por Samantha. Ela disse que tinha alguma coisa pra me mostrar. Ok. Eu devo ter ficado quase uma hora lá fora esperando. A peça já tinha começado - e eu já não tinha tanta certeza de que era Romeu e Julieta - quando eu vi aquela ruiva fogosa caminhando na minha direção. Sam não gostava muito de roupas de marca, mas eu tinha certeza de que, pra ter conseguido deixar os peitos daquele tamanho, ela só podia estar usando aquele sutiã da Victoria's Secret com o maior enchimento do mundo.
Ela não me cumprimentou. Na verdade, educação, bons modos e derivados não deviam constar no vocabulário dela. Mas ela era a Ira, eu não podia esperar nada diferente disso, né. Samantha passou direto por mim, entrando no auditório. Teria sido melhor se ela tivesse me deixado apenas segui-la, mas ela precisava dar uma de macho e me puxar pela gola da camiseta.
- Oi pra ti também. Sabe como é, a gente não dormiu junto. - eu ia terminar com um "ainda", mas ela me olhou com aquele olhar assassino que sempre me fazia desistir das minhas gracinhas.
- Descobri como chegar nos camarins. - ela abriu um sorriso safado.
Pode parecer absurdo, mas só o pessoal do teatro e os funcionários sabiam como chegar nos camarins do auditório. O North River poderia ser chamado de castelo se... Bom, se ele se parecesse com um. O fato é que era realmente muito grande e você precisaria de, no mínimo, um ano pra conseguir não se perder lá dentro.
- Nossa! Você deve estar mesmo orgulhosa. Quer dizer, depois de quatro anos procurando, ia ser meio frustrante se formar sem encontrar. - eu ri, esquecendo que podia apanhar. De fato, uma mão voou na minha cara.
Ela me encarou, de novo, daquele jeito assassino, e não disse nada, só continuou a me guiar. Entramos numa porta ao lado do palco - ninguém nos viu porque estava obviamente tudo escuro nos bastidores -, e fomos parar num corredor largo, sem portas ou janelas. Ou sem qualquer outra coisa além de paredes, teto e chão.
Andamos uns cinco minutos até chegarmos às portas. Algumas portas - a maior, com o aviso "saída" - e o fim do corredor. Nelas, placas com os nomes dos personagens e seus respectivos intérpretes. Samantha escolheu a que dizia "Helena - Vallery P. Miller". Mas que diabos, nunca tinha ouvido falar daquela garota e definitivamente não existia nenhuma Helena em Romeu e Julieta.
- Feliz aniversário, Matthew. - ela disse, me puxando para um beijo antes que eu pudesse dizer que ainda faltava dois meses para Novembro.
Empurrei a porta atrás de mim com o pé e conduzi Samantha até a enorme bancada bagunçada, segurando-a pela cintura e sem me livrar da língua dela. Ninguém no colégio tinha dúvidas sobre Samantha ser absolutamente caída por mim e, bom, eu não sou o tipo de homem que desperdiça oportunidades como essa.
Então, lá estávamos nós, nos esfregando no camarim onde as pessoas podiam entrar a qualquer momento, porque nenhum de nós, idiotas, lembrou-se de trancar a porta. A camiseta de Samantha já estava bem longe do corpo dela e ela usava mesmo aquele sutiã Victoria's Secret. A minha calça já estava aberta e eu me perdia no meio dos peitos dela. E daí fodeu tudo. Ou não exatamente, depende do ponto de vista.
A porta foi escancarada num estrondo por uma moreninha que ria alto com as amigas atrizes. Ela usava um vestido de época azul-claro e os cabelos cacheados. Vallery P. Miller, a ocupante do camarim, possivelmente. Possivelmente? Gosh.
Fiquei encarando Vallery por alguns segundos - que pareceram muitos minutos - até que eu tirasse as minhas mãos de dentro da saia de Samantha e fechasse as minhas calças. Meio... Desagradável.
- Hm, Vallery, né? - me aproximei dela oferecendo a mão direita, mas logo me lembrei de onde ela estava segundos atrás e a recolhi para o bolso.
Ficamos nós três parados - sorte, foi muita sorte as amigas-atrizes terem passado direto, sem ver o que tinha acontecido -, em silêncio, por muito tempo. Samantha com seu olhar pesando nas minhas costas e Vallery me encarando nos olhos. E eu no meio das duas, sem saber o que fazer. Tem coisa pior?
Ficamos nós três parados - sorte, foi muita sorte as amigas-atrizes terem passado direto, sem ver o que tinha acontecido -, em silêncio, por muito tempo. Samantha com seu olhar pesando nas minhas costas e Vallery me encarando nos olhos. E eu no meio das duas, sem saber o que fazer. Tem coisa pior?
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